Domingo tem o Mastro de São Sebastião, em Penha


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No próximo domingo (16) vai acontecer em Penha o tradicional rito do Mastro de São Sebastião. O evento começará a partir das 14h, na Rua José Camilo da Rosa, n° 536 (casa do Janjão Teodoro), na Praia Grande, em Penha.

Também chamada de “PUXADA DO MASTRO” ou “CONGADA DO MASTRO”, o ritual é uma manifestação folclórica popular bicentenária em Penha. Sua origem ainda é cercada de muitas dúvidas e teorias, porém é mais provável que os portugueses vicentistas, os primeiros colonizadores da região de Itapocoróy, tenham trazido esta tradição na bagagem e introduzido na comunidade recém formada, no início do século XVIII.

Em Penha essa manifestação cultural folclórica religiosa está presente em duas comunidades: em Armação do Itapocoróy e em Santa Lídia. Destacando que Penha é a única cidade de Santa Catarina onde existe a Festa do Mastro de São Sebastião. Talvez a origem do termo “Congada”, seja uma referência aos vários negros escravizados presentes em Itapocoróy e cercanias originários da região do Congo, na África. A Cantoria “Minêro Dô, Minêro Dô” pode ter surgido com esses personagens da rica história da Armação do Itapocoróy, pois seu significado ainda é uma incógnita. A história oral de alguns integrantes da comunidade relata esse termo como “expressão de origem africana” de devoção aos santos e santas, pois também era usada nas Cantorias da Festa de Nossa Senhora do Rosário, ou “Festa dos Pretos”.

A Professora, pesquisadora e Historiadora Maria do Carmo Ramos Krieger pesquisou esta manifestação popular e publicou vários artigos em jornais e até construiu um trabalho acadêmico em parceria com Mônica Krieger Goulart. Algumas imagens desta postagem são de sua autoria.

O Pesquisador, Historiador e Fotógrafo Jói Cletson, integrante do NEA – Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC, fez um trabalho fotográfico histórico desta manifestação, que mereceu exposição na universidade, em Florianópolis.

A Festa é composta de alguns Rituais bem singulares. Vamos a eles:

1. Escolha do(a) Promesseiro(a). É uma pessoa da comunidade, devota de São Sebastião e recebedora de alguma graça alcançada. O Conselho da Capela de São João Batista, em Armação, e o de Santa Lídia, no bairro de mesmo nome, é quem escolhe o nome.

2. O Corte do Mastro. Uma árvore com tronco reto com mais ou menos 10 a 12 metros é escolhida, cortada e levada ao local de início da manifestação, que pode ser a casa da pessoa promesseira ou um local público, como uma praça.

3. A Confecção da Consertada e das broas de coco. A pessoa escolhida como promesseira é responsável em providenciar a bebida típica de Penha – a Consertada ou “Cachaça temperada”, e as caseiras broas de coco, que serão servidas aos devotos e presentes durante todo o processo da manifestação.

4. O Colhimento de folhagens e flores. Mulheres e homens da comunidade recolhem as folhagens e as flores que servirão para enfeitar o mastro e levam até o local.

5. O Enfeite do Mastro. As mulheres começam este ritual entoando cantorias singulares, envolvendo o Mastro com as folhagens e as flores, preparando-o para a “Puxada”.

6. A Dança ao redor do Mastro. Após o enfeite terminado, os foliões, com diversos instrumentos musicais – viola, tambor, chocalho, etc. – iniciam as cantorias com versos puxados por um “Mestre Cantador” e, intercalando esses versos, é acompanhado por todos com o “Minêro Dô, Minêro Dô”.

7. A Distribuição da Consertada e das Broas. É nesse momento que as iguarias são ofertadas a todos os presentes na Festa, sendo distribuídas em porções ou medidas.

8. A Puxada do Mastro. Com uma ordem do Mestre Cantador, um grupo de homens ergue o Mastro às costas e, em seguida, iniciam uma procissão em direção à Capela, acompanhados pelas pessoas presentes. Procissão tem uma ou duas “Paradas” para descanso dos puxadores do Mastro e novamente Consertada e Broas são distribuídas a todos.

9. O Levantamento do Mastro. Chegada a Procissão ao pátio da Capela, e após um breve descanso regado com as iguarias, o Mestre Cantador dá nova ordem, em versos, para iniciar o ritual do Levantamento do Mastro.

10. A dança ao redor do Mastro. Após o Mastro erguido e fincado no pátio da Capela, puxados pelas cantorias, todos começam uma dança ao redor do Mastro, em agradecimento ao Santo São Sebastião. É nesse momento que algumas pessoas “colhem” algumas flores do Mastro, numa crença popular de que o Santo ajudará a ter um “bom casamento” ou até uma “graça atendida”. Neste momento é feito o recolhimento de doações em dinheiro, que será repassado aos foliões tocadores.

No domingo seguinte à esta manifestação, na Capela, é realizada uma Missa de Ação de Graças a São Sebastião, onde as pessoa devotas e comunidade levam massas de pão confeccionadas com as partes do corpo ou formato de seu pedido ao Santo, no qual foram atendidos. As massas são leiloadas entre os presentes na missa, que é denominada “Missa das Massas”. O dinheiro arrecadado com o leilão é do Conselho da Capela, que o reverte em benfeitorias.

Já se tornou de praxe, nas Festas do Açor, organizadas pelo NEA, a realização da Puxada do Mastro de São Sebastião de Penha, logo após a Missa de Encontro das Bandeiras do Divino, no domingo da Festa, pela manhã.

 

Imagem: Prefeitura de Penha