Todo mundo tem direito a um bom banho de mar. Essa é a premissa do Projeto Praia Acessível, iniciativa do Governo do Estado de Santa Catarina que atende a pessoas com diferentes graus de deficiência física e mental em 68 praias de 23 cidades litorâneas, entre elas Penha, Navegantes e Balneário Piçarras, que receberam as cadeiras de rodas anfíbias. A lista dos locais acessíveis está disponível no aplicativo CBMSC Cidadão.
Para esta temporada, a Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur) destinou um investimento recorde em acessibilidade para os banhistas. Realizado desde 2013 por iniciativa do Corpo de Bombeiros Militar (CBMSC), o projeto Praia Acessível agora dispõe de 150 cadeiras e 19 mil estrados, distribuídos nos balneários catarinenses. O investimento foi de R$ 750 mil, o mais alto até o momento para o programa. É a maior iniciativa do gênero no Brasil.
“Estamos oferecendo equipamentos, em parceria com o Corpo de Bombeiros, em praias e rios, para humanizar e dar dignidade para as pessoas aproveitarem com segurança o nosso verão. É algo muito significante, que nos deixa muito felizes e nos enche de orgulho”, diz o presidente da Santur, Renê Meneses.
A iniciativa é apadrinhada pela primeira-dama do Estado, Késia Martins da Silva, que também coordena a Rede Laço no Estado. Segundo ela, o objetivo é propiciar as melhores experiências para as pessoas com deficiência.
“É uma honra ser madrinha de um projeto tão importante para o turismo acessível de Santa Catarina. Nosso objetivo é proporcionar experiências incríveis no litoral catarinense às pessoas com deficiência. É gratificante ver o empenho dos voluntários, das famílias e, principalmente, o sorriso no rosto de quem pode novamente entrar no mar”, conta Késia.
Movimento intenso na Praia do Sonho
Na Praia do Sonho, em Palhoça, o movimento não para. Desde as 8 horas, a equipe de guarda-vidas civis voluntários, coordenada pelo sargento Claudio Luiz Andrade, atende a dezenas de pedidos. Com acesso facilitado, os carros podem parar ao lado do posto dos bombeiros. De lá, os guarda-vidas usam a cadeira anfíbia, com largas rodas adaptadas, para levar os participantes da areia até o mar. Já dentro da água, eles são tirados dos carrinhos e conseguem desfrutar da liberdade do contato direto com o oceano, com a segurança de estarem acompanhados de profissionais especializados enquanto usam um flutuador.
Na manhã desta quarta-feira, 29, foi a vez do jovem Luiz David Arruda voltar ao mar após mais de quatro anos. Com 21 anos de idade, ele possui problemas de mobilidade desde bebê. Nascido de forma prematura aos cinco meses de gestação, Luiz sofreu uma parada cardíaca ainda na maternidade, o que afetou a sua coordenação motora. Uma cirurgia realizada em 2017 acabou por piorar a situação. Desde então, ele estava acamado.
O reencontro com a praia encheu de esperança a mãe de Luiz, Denise Arruda. Ela agradeceu o trabalho dos bombeiros e ressaltou a importância da iniciativa. “Estou emocionada. Foi muito bom poder ver a alegria do meu filho em entrar no mar novamente. Tudo que a gente quer é que ele se recupere. Acho que esse mergulho vai ajudar”, afirma Denise.
Com 30 anos de profissão, o sargento Andrade é o coordenador do projeto Praia Acessível em Palhoça. Ele participa da iniciativa desde o começo, ajudando no aperfeiçoamento do programa. Andrade conta que, como bombeiro militar, já atuou nas mais diversas situações, como o atendimento a pessoas traumatizadas, incêndios de grandes proporções, entre outras. Mas nada lhe rendeu tanta satisfação quando ajudar quem quer – e até então não conseguia – entrar no mar.
“É indescritível. Ao realizar esse ato simples, de proporcionar um banho de mar, nós recebemos de volta o sentimento mais puro de alegria. Nada gera mais satisfação do que isso. É um trabalho muito recompensador”, conta Andrade.
Quem também voltou ao mar depois de muito tempo nesta quarta-feira foi Anselmo Mendes, de 39 anos. Velho amigo do sargento Andrade, ele possui problemas para se locomover e ajudou no projeto Praia Acessível desde o começo. Atuou como “piloto de testes” dos carrinhos desenvolvidos pelos bombeiros e os seus feedbacks ajudaram a tornar a experiência ainda melhor.
Para o guarda-vida civil voluntário Paulo Ricardo Corrêa, a Praia do Sonho é ideal para os mergulhos por possuir um mar calmo, com poucas ondas. Ele diz que também ajuda os banhistas na Praia de Cima. Na sua opinião, a energia positiva que os banhos de mar provocam transcende o mero dever profissional.
“São diversas histórias que a gente escuta e se emociona. Chega a dar aquele nozinho na garganta muitas vezes. O pouco que a gente faz traz muita felicidade para essas pessoas, com sorrisos e alegria genuínos. Para muitos, é a primeira vez que eles entram no mar. Chego a ficar sem palavras, mas é tudo uma troca, pois a gente também aprende muito com eles”, atesta Corrêa.
Imagem: Julio Cavalheiro/Secom-SC