Penha Online – Notícias de Penha (SC), Balneário Piçarras, Barra Velha, Navegantes e região Sair do modo leitor

Penha e Barra Velha mobilizam pesquisadores para difundir os 200 anos da visita de Saint Hilaire

Professores do litoral norte estão se mobilizando para colocar em evidência os 200 anos de um momento importante para a história de Santa Catarina, e em especial, de cidades como Barra Velha e Penha: neste 2020, celebra-se o bicentenário da visita ao Brasil do botânico, naturalista e desbravador francês Auguste de Saint Hilaire, que percorreu a orla catarinense no já distante ano de 1820. De acordo com pesquisadores como Cacá Fagundes, de Barra Velha, e Eduardo Bajara de Souza, de Penha, Saint Hilaire deixou importantes relatos acerca do panorama que encontrou no litoral barriga verde no início do século 19. Integrante da Missão Artística Francesa no Brasil, Hilaire passou, por exemplo, pela Enseada de Itapocoróy, e pelos costões de pedra hoje localizados em Barra Velha.

A partir dos historiadores, e com o apoio da Assessoria de Imprensa de Penha, logotipos alusivos à data foram desenvolvidos. Fagundes já promove palestras acerca do naturalista e sua contribuição histórica, e junto de Bajara, visa desencadear nas escolas ações de pesquisa sobre esse legado. A extensão da Escola Básica Municipal Antônia Gasino de Freitas (atuando hoje na sede antiga da Escola de Educação Básica David Pedro Espindola, no São Cristóvão, em Barra Velha), foi a primeira a receber as palestras de Cacá.

Tanto Cacá como Bajara possuem importantes registros desse momento histórico, garimpados não apenas por eles, mas por outros historiadores ou pesquisadores, a partir das descrições efetuadas pelo próprio Saint Hilaire. Bajara lembra, por exemplo, que o francês pernoitou no Itapocoróy, e a partir de Penha, escreveu minucioso e interessante relato, descrevendo as instalações e o funcionamento da “Armação Baleeira”, que, à época, ainda se encontrava em funcionamento.

Segundo Saint Hilaire, “nove caldeiras de mais de seis metros de diâmetro, cada uma, instaladas sobre fornalhas, num edifício de 90 passos de comprimento, serviam para a extração do azeite de baleias”, nesse espaço. Por meio de calhas, o azeite era repassado a sete reservatórios de pedra e tijolos, instalados em edifício anexo a um engenho. Por trás dessas duas construções, ficavam as senzalas dos escravos, que cortavam as baleias, puxadas até trapiches, em tiras e depois em pequenos pedaços, que eram levados aos tachos; frigi-los, passá-los pela prensa, armazenar o azeite, transferindo-o para as pipas em que era remetido para a Corte do Rio de Janeiro era outra função.

Já Fagundes reforça que em Barra Velha, as primeiras descrições históricas de pontos como Itajuba, por exemplo, também foram feitas por Saint Hilaire, também em 1820, na sua memorável “Viagem à Curitiba e à Província de Santa Catarina”. Segundo os registros do naturalista, “no final das terras planas cultivadas que já mencionei acima, encontra-se a embocadura de um pequeno rio que passa no sopé de um morro no qual havia um sítio”. A descrição corresponde a Itajuba, no ponto da atual desembocadura do rio que leva o nome do bairro, e no sopé do atual Morro do Grant. “Esse rio chamado Itajuba é navegável. Na maré baixa chegamos ali, porém na montante tivemos que descarregar os cavalos, colocar toda a bagagem numa canoa muito pequena e depois fazer com que fosse levada nas costas dos homens até o alto do morro”, descreveu o francês.

“Toda essa região é densamente povoada, mas a uma distância de pouco mais de meia légua do mar não se viam à época de minha viagem senão matas despovoadas e sem donos”, acrescentou. Fagundes observa que na época dessa viagem histórica, estavam se fixando os primeiros descendentes de açorianos no litoral.

Na visão dos historiadores, o bicentenário é a oportunidade ideal para focar a riqueza dos escritos de Saint Hilaire e a importância deles para a historiografia regional. Nas próximas semanas, Bajara e Cacá se encontrarão para definir estratégias visando a celebração da data na região – como palestras em escolas, por exemplo. A estratégia tem apoio do Departamento de Cultura da Prefeitura de Penha. Bajara também levará os logotipos e propostas às reuniões do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC, que está organizando a próxima edição (de número 27) da Festa da Cultura Açoriana, o Açor.

Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853)

Nascido em Orleans, cidade e comuna no norte-centro da França, o botânico oriundo de família nobre foi um dos primeiros cientistas europeus a percorrer os territórios do Brasil colônia. Durante seis anos, de 1816 a 1822, ele, infatigável, visitou as províncias do centro e do centro-sul do Brasil, acompanhando a missão do duque de Luxemburgo, e recolhendo pelo caminho um proveitoso acervo botânico, registrando cada passo das suas andanças num diário de viagem.

De acordo com a Biblioteca Nacional, anos depois, ao retornar à França em 1822, Saint Hilaire assumiu altos postos no magistério acadêmico, escrevendo no prefácio do Voyage dans les provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes, 1830, em que manifestou a esperança de que a detalhada narrativa das suas peripécias científicas pelo Brasil, após ter percorrido vastas extensões (talvez mais de 16.500 quilômetros), escassamente conhecidas, mesmo para os nativos do país, servisse aos brasileiros em geral como uma espécie de testemunho abalizado da situação geral em que o país-continente se encontrava naquela ocasião.

 

Com informações da Prefeitura de Penha